19 de dez. de 2009

O SORRISO DOS CÃES

"Eu cheguei em frente ao portão / Meu cachorro me sorriu latindo." Atire o primeiro osso quem nunca se emocionou com essa frase, eternizada na canção "O Portão", de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Nessa música, os autores conseguiram captar exatamente o sentimento daquele bicho que reencontra o dono, depois de um longo período de distância. A imagem do cachorro no portão de casa, latindo e abanando o rabo pro dono que, da rua, vem se aproximando cada vez mais, na minha opinião, é a que melhor simboliza o elo entre esses bichos e nós, humanos. Parece que eles querem dizer algo como "Ufa! Que bom, você voltou! Entra logo, entra!". Simples e sincero.



Muitas vezes, nem é preciso ser dono de um cão pra receber o sorriso dele. Tampouco há a necessidade de portões. Nada. Basta ele ir com a sua cara. Anos atrás, quando eu estava em uma fazenda por causa de um estágio do meu curso, eu voltava todos os fins de tarde para a casinha onde eu estava hospedado sozinho, no meio do mato. Em uma de minhas caminhadas por aquela estradinha de terra, percebi que um cachorro me seguia. Era um vira-lata - ou SRD (Sem Raça Definida), como preferem os mais politicamente corretos. Simpático, fizemos amizade ali mesmo, e ficamos lado-a-lado. Por todo o percurso, fui contando pra ele do meu dia-a-dia naquela fazenda. Sim, eu estava carente de conversas com seres bacanas, e ele foi um ótimo ouvinte, conforme atestavam aquelas orelhas que se erguiam a cada frase emitida por mim. Apesar do meu convite pra que ele passasse a noite por ali, perto de mim - "vem cá, vem!"-, o meu novo amigo preferiu continuar caminhando, sumindo na próxima curva. Tudo bem, talvez o meu papo não fora tão interessante assim. Acontece.


Na tarde do dia seguinte, o reencontrei, na mesma estradinha. Pra minha surpresa, quando ele chegou perto de mim, abriu um baita sorriso. E não foi latindo. Sorriu mesmo, que nem gente, exibindo toda a arcada dentária superior, dentes e, principalmente, gengiva. Desconcertante. Por causa daquela gengiva, exposta como um imenso painel de propaganda, passei a chamá-lo de "Gêngis Cão", meu companheiro de caminhadas e sorrisos nos fins de tarde. Confesso que o estágio naquele lugar, realizado por causa da conclusão do meu curso de Medicina Veterinária, era de uma chatice sem igual, compensado apenas pela presença do sorridente Gêngis Cão, que, depois de umas semanas, desapareceu. Não tenho idéia do que aconteceu com ele. Até hoje, prefiro imaginar que ele encontrou uma companheira e resolveu se mandar pra um lugar melhor, de forma que pudesse criar melhor seus gengiscãezinhos. Não gosto de considerar a possibilidade dele ter sido atropelado. Que algum brucutu tenha atirado nele pra defender o galinheiro. Não, pra mim, se morreu, foi de velhice mesmo, depois de muitos anos. E sorrindo.


E sim, depois da minha experiência com o Gêngis Cão, passei a acreditar mais ainda naquela canção do Roberto Carlos, de que cachorros sorriem mesmo. Seja latindo, abanando o rabo, pulando, rodopiando, e até mostrando as gengivas. Alguns, se pudessem, soltariam fogos de artifício a cada novo reencontro, sem dúvida alguma. E você, já recebeu o sorriso do seu hoje?

Fonte: Escrito por Marcelo Hernandes
































São  Lindos  !!
 e
 


Um comentário:

Unknown disse...

Rsrsrs.......esse eu conheço!!!
Bjkssss